Por Fernanda Santiago Valente
Sabe aquele dia que você para e pensa, pensa, pensa e ao mesmo tempo não pensa? Pois é, estou assim. Ando pensando no vazio diário. Ando pensando no vazio das pessoas. Ai, como tudo isso me incomoda. Cada vez que olho para alguém vejo um fantasma. Vejo cada bicho horroroso. Tudo começa quando me olho no espelho, o susto é fatal! Ando pela casa e procuro o que fazer... Então leio. É, acabo lendo algo que me assusta mais ainda: “A hora da estrela”, de Clarice Lispector.
Termino de ler o livro e fico com a mocinha feia vagando em minha memória. Que final mais triste, que coisa mais horrorosa. Afinal, ela era simples demais, comum. Qualquer palavra diferente era linda. A palavra CULTURA era fenomenal para alguém que não possuía um mínimo de conhecimento. Observo, olho para as outras pessoas. Começo a pensar na vida do vizinho, na mulher maltratada que passa pela rua. Só penso em feiúra. Será que alguém é feio por que quer?
Eu achei a mocinha feia bonita. A beleza dela era interna. Ela não conhecia. Ela não sabia. Então, paro novamente e olho para os fantasmas internos. Ah, são muitos fantasmas. Ligo a televisão e vejo algo terrível: Uma mãe se apaixona pelo próprio filho.
E mais uma vez paro para pensar: O que pode ser mais feio que a falta de conhecimento? Vi que o feio é o vazio.
Novamente fui ao espelho e vi que só estava faltando um brilho, um retoque talvez. Bastou apenas pentear os cabelos, passar um batom e pintar os olhos. A aparência havia mudado. Coloquei um sorriso nos lábios e pronto. A primeira pergunta que ouvi foi a seguinte:
_Vai sair?
_Não, respondo.
_Então por que se arrumou?
_Eu não me arrumei. Estou com a mesma roupa. Eu só estava querendo espantar o fantasma, falei.
_Fantasma? Que Fantasma?
_Aquele que às vezes quer que eu fique feia, com cara de louca.
_Está certo!
Respondi assim para o meu avô e fiquei zanzando pela casa. O meu pensamento voava. Peguei uma revista de moda para ler e vi muitas mulheres bonitas, siliconizadas, fazendo dieta, eram aqueles assuntos idiotas que não dou muito valor. Aquelas da revista estão vazias de conhecimento. Falta algo. Falta a busca do eu. Quem sou? Para onde vou? Onde quero chegar? Talvez as pessoas estejam indo para o mesmo lugar. Querem ir ao encontro do mundo que não existe. A televisão, a revista, o jornal, a internet, o rádio são ilusões diárias, são tormentos que tentam me hipnotizar. Como eu queria ser igual a Fulana. São as frases que ouço. Nada mais. Não ouço mais nada. Carrego mil informações. Minha cabeça não para. E ao mesmo tempo, tudo o que penso não serve pra nada. Por que sou assim? Lembro da prostituta que não sabe porque se tornou prostituta. Queria ela ser atriz? Jornalista? Advogada? Encontrar um amor e ser feliz? Penso na prostituta e vejo uma poesia:
“O meu ponto é ali na esquina
Moro sozinha
Ninguém me ama
Por isso te espero na rua
Com a lua nua
Para ser tua
Em qualquer cama”
Não consigo pensar em nada mais vazio. Ah, sim. Consigo pensar em algo mais vazio. Penso nos adolescentes que tem pai e mãe. Penso naqueles que tem escola, comida e ainda conseguem reclamar da vida. Ouço frases bestas. “Escola é um saco”, “A professora é uma burra”, “Ah mãe, cai fora!”. É o vazio. Apenas o vazio.
E ainda pensando... Alguém me telefona. Era uma amiga que eu não conversava já há alguns meses. Ela me pergunta como é que consigo aturar o “mala” do meu esposo por tanto tempo. Ela chamou o meu esposo de “mala”. Mas sei lá, ela estava sem “mala” para carregar. Estava vazia, e com certeza, a procura de um “mala” como o meu esposo. A cada final de semana ela sai com um. Curte adoidado. Transa. O cara some e nem sequer telefona. E sobra, pois é, sobra apenas o vazio.
Não consigo mais parar de pensar no amor. Por onde ele anda? As pessoas querem o prazer. Querem apenas consumir por consumir. Ficar por ficar. Desejar o que é ilusão. Sonhar com o carro do ano, ir para as mais agitadas baladas, dar umas cheiradas, se embriagar talvez. E por aí vai. Vazio por vazio. As pessoas querem ser aquilo que estão vendo na televisão, na mídia. Querem viver de fantasia. Uma fantasia fatal, uma fantasia que não existe. Uma ilusão.
Repito mais uma vez, aquela mocinha do livro era bela. Ela não sabia...
Mas nós conhecemos. Vivemos na era da informação. Vivemos o vazio simplesmente porque está na moda ser vazio. São os fantasmas...
DEUS é o único que pode preencher o vazio... O AMOR